Produtor
Porto Post Doc Festival Cinema - Associação Cultural
Breve Introdução
SÁB 3 Rivoli Auditório IAC, 21h30
Rust
Eloy Domínguez Serén, 2016, Suécia/Espanha, 14', M12
Rust prolonga, logo nos minutos iniciais, o gosto de Serén pelas paisagens desérticas e invernosas de No Cow On The Ice, desviando-se depois, porém, para um espaço interior, no caso, um antigo edifício industrial abandonado. Há qualquer coisa de mítico nesse trajeto que é feito do exterior (o presente) para o interior (o passado) – trajeto que, noutros termos, era o que o próprio Serén também fazia, na condição de emigrante, em No Cow On The Ice –, da luz para a escuridão, espécie de “caverna platónica” invertida, como se fosse no escuro que se encontra a explicação para o mistério das coisas. É pelas ruínas e, em especial, pela ferrugem que dá o título ao filme que o cineasta e a sua solitária personagem se interessam, num percurso que, aparentemente carente de uma lógica definida, se faz em torno da metódica recolha dessa seiva unificadora (a ferrugem, precisamente) de passado e presente e com um objetivo que permanecerá na sombra, mistério que o excelente trabalho de iluminação e de som apenas reforça. (Francisco Noronha)
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No Cow On The Ice
Eloy Domínguez Serén, 2015, Suécia/Espanha, 63', M12
Alguém com uma licenciatura e um mestrado que tem de emigrar por não encontrar trabalho no seu país – onde é que já ouvimos esta história? Num movimento de “dentro para fora”, Serén filma o seu quotidiano na adaptação a um novo país, a uma cultura, a um povo – e, sobretudo, a uma nova língua. Não deixa de ser curioso que, durante o tempo em que não é fluente no sueco, o galego registe os seus monólogos interiores exclusivamente através de intertítulos escritos, passando a narrar o filme oralmente quando já domina a língua, forma quase autodisciplinadora de aprender e apreciar os costumes do país onde se encontra. Ora no fora de campo, ora filmando-se a si próprio – sem nunca cair, porém, no exibicionismo ou num certo autovoyeurismo para que alguns documentaristas tendem –, o espanhol constrói, em registo diarístico, a memória filmada – e a espaços poética – de uma experiência de desenraizamento e aproximação lenta e com os seus espinhos que a emigração é sempre, por mais que a publicidade da globalização nos queira iludir e convencer do contrário. Beneficiando de uma fotografia notável e aplicando uma noção fílmica de tempo-ritmo em perfeita harmonia com o tempo-clima e o tempo-paisagem suecos (os planos fixos e demorados não estão lá “porque sim”; é ela, a paisagem, que os reclama), o filme, mesmo na sua nostalgia, nunca se prende demasiado à ideia de uma felicidade que “ficou lá atrás”, antes apontando otimistamente, mesmo que nada em especial o prenuncie, para o que está por vir. (Francisco Noronha)